Verão de 1982. Fervilhava no Rio de Janeiro um movimento cultural onde uma rapaziada altamente "descolada" começava a ganhar voz em meio à reta final da ditadura militar que asfixiava o país havia quase 18 anos. No olho do furacão das novas tendências estava o Circo Voador. Montado no Arpoador, o Circo servia de base para as montagens e oficinas do grupo teatral "Asdrúbal Trouxe o Trombone", de onde sairiam, entre outros, Regina Casé, L.F.Guimarães, Patricia Travassos e Evandro Mesquita. Ali, meio de brincadeira, surgia uma banda que mudaria a história do rock no país.
Ainda semi-marginalizado por aqui, o gênero contava com guerreiros que o sustentavam às custas de muito suor e afinco, como Rita Lee e Raul Seixas. Porém, faltava algo para que a grande mídia abrisse os olhos para o rock’n roll como um produto vendável e de fácil aceitação. Coube à BLITZ o chute na porta. E esse chute tinha nome: "Você não soube me amar" era uma canção que identificava um novo modo de se fazer rock.
Essencialmente teatral e debochada, se transformou em mania nacional. Nos colégios, meninos deixavam o cabelo crescer na parte de trás "à la Evandro", meninas se dividiam em duplas para imitarem os vocais de Márcia e Fernandinha. Da letra irreverente, o povo sacou bordões que eram exaustivamente repetidos nas ruas: "ok, você venceu", "que felicidade, que felicidade" e vários outros. Na carona do mega sucesso, até uma paródia foi produzida pelo radialista Romilson Luiz, da rádio "Antena 1", sob o pseudônimo de Piu Piu de Marapendi, a fantástica "Eu hoje vou me dar bem" (relembre no link ali embaixo). Resumindo, só quem viveu aquela época é capaz de mensurar o feito da turma da BLITZ, certo? Errado.
Uma rapaziada que sequer sonhava em nascer naquela época acaba de produzir o documentário "Mais de três foi o diabo que fez", contando as histórias que cercam a canção. Leonardo Souza, Tita Berredo, Alan Ribeiro e Daniel Accioly são estudantes de publicidade e cinema da PUC-Rio e o mais velho tem apenas 26 anos. A ideia de resgatar o estopim daquele movimento surgiu pela paixão comum ao rock nacional e pelas influências das bandas nascidas na época. Durante o filme, há passagens comoventes e outras curiosas, como o fato de que dois dos quatro compositores não se conhecem pessoalmente até hoje! O nome do filme se refere a uma frase que certa vez Caetano Velloso falou para Ricardo Barreto: "Essa música foi feita por quatro autores, né? Você sabia que parceria de mais de três foi o diabo que fez?"
Gravações concluídas a custo zero, os "meninos" agora aguardam ajuda para finalizarem o trabalho. No momento, buscam apoio financeiro para os últimos detalhes como o custeio de direitos de imagem e edição final. Em troca, oferecem espaço para publicidade. A causa é nobre e os interessados podem entrar em contato com o e-mail docmaisde3@gmail.com.
Assista ao trailler do filme: