terça-feira, 25 de outubro de 2011

Guia de CDs

Revista Rolling Stones
 
 
Cavaleiro Selvagem Aqui Te Sigo - Maria Aydar
 
Cavaleiro 
Selvagem Aqui Te Sigo
 
Longe do mar de mesmice das novas cantoras brasileiras, onde só há repetição ou modernidade
vazia, Mariana Aydar se mostra como uma artista talentosa e preocupada em encher seu canto e canção com um algo mais que pode ser simples cuidado na produção ou uma verdadeira e ingênua vontade de passar amor, paz e felicidade pela música. Cavaleiro Selvagem é, segundo ela, um aceno a uma naturalidade humana meio esquecida hoje em dia.
 
 
De Verdade - Nevilton
 
De Verdade
 
Depois de lançar um elogiado EP e receber um Prêmio Multishow, o trio paranaense Nevilton não traz novidades em seu disco de estreia para quem já conhece a banda. Mas, aos não iniciados, o grupo faz as honras com 14 temas de guitarra, baixo e bateria bem mais interessantes do que os que costumam frequentar rádios e festivais. Sobressai a combinação do power pop dos anos 90 com a inspiração do rock brasileiro, unindo guitarras sujas e acentos melódicos. Há momentos familiares, como “Pressuposto”, que nasceu pronta para FMs, e “A Máscara”, quando salta a semelhança vocal de Nevilton com Nando Reis e uma levada com jeito de Skank.
 
 
Longe de Onde - Karina Buhr
 
Longe de 
Onde
 
Grata surpresa de 2010 com Eu Menti pra Você, álbum solo embebido em sarcasmo, Karina Buhr passa sem colar na sempre temida prova do segundo disco. Pilotado pela artista pernambucana com o baterista Bruno Buarque e o baixista Mau, Longe de Onde apresenta safra de 11 inéditas autorais pautadas por tons geralmente mais brandos, sem perda da objetividade do discurso. “Não me ame tanto / Eu tenho algum problema com amor demais”, avisa na suingante balada “Não me Ame Tanto”. Se “Cara Palavra” endurece poesia já concreta com rock hard, “Cadáver” é jogado na praia do reggae e “Pra Ser Romântica” dialoga com o cancioneiro sentimental mais kitsch no balanço da guitarra de Fernando Catatau.
 
 
Chão - Lenine
 
Chão
 
Embora Lenine tenha estudado química, a palavra “fórmula” parece não fazer parte do dicionário do artista pernambucano. Entre um álbum e outro, ele sempre buscou novos caminhos musicais para amparar suas composições, sem se manter preso a maneirismos ou receitas, ainda que isso pudesse
parecer sedutor. Mas agora o rompimento é definitivamente maior: depois de um disco como Labiata (2008), com o peso de músicas como “Excesso Exceto”, Lenine retorna com Chão, um álbum, como ele próprio define, “minimal”.
Chão é um jogo de montar, com dez pequenas peças complementares, como ligadas por um fio invisível. Da música-título, na abertura, a “Isso É Só o Começo”, a última, são pouco mais de 28 minutos.
 
 
Zé Ramalho Canta Beatles - Zé Ramalho
 
Zé Ramalho 
Canta Beatles
 
Fiel a seu estilo, ramalho aborda a obra dos Beatles com sua habitual pegada em CD que combina gravações deste ano com registros feitos em 1999 para um tributo ao grupo, disco abortado pelo artista na época. A influência de Bob Dylan salta aos ouvidos na releitura, em compasso ternário, de “I Need You”. A pronúncia imperfeita do inglês do cantor denuncia a brasilidade do disco, reiterada pelo tom épico-nordestino que envolve temas como “In My Life” e “Dear Prudence”, pontuados por violas e sanfonas.
 
 
A Cura Pelo Som - Funk Como Le Gusta
 
A Cura pelo 
Som
 
A prioridade do funk como Le Gusta sempre pareceu ser o palco – é lá que a big band de funk e sons latinos sobressai. Talvez isso explique o hiato entre o trabalho de estúdio anterior, FCLG, de 2004, e este A Cura pelo Som. Nele, os dez experientes músicos da noite paulistana e convidados mostram as composições que surgiram nesse intervalo, destacando as faixas que deixam a verve latina aparecer mais do que a black. “Irê” e “Muchacha Fantástica” têm, nesse quesito, o DNA das pistas. Já “Agente 69” é uma daquelas faixas intensas que levantam qualquer ambiente. O groove está presente na minimalista “Balacobaco” e em “Putz!”. Navegando pelo CD em PC ou Mac é possível descobrir um arquivo que dá acesso ao “lado B” do CD: um pacote de oito faixas para baixar. Os funks “Todo Mundo Quer” e “Malaka” são as melhores aqui. 
 
 
Moto Contínuo - China
 
Moto 
Contínuo
 
Conceitualmente, o segundo álbum solo de China não se distancia de Simulacro, lançado em 2007, carregando um balaio de referências musicais de períodos diversos. O tal balaio virou, revirou e misturou ainda mais as ecléticas influências do artista. Por vezes, ao ponto do irreconhecível. O que sobressai é a voz de China, cada vez mais diluída, em meio a uma fartura de instrumentos. “Boa Viagem”, a faixa de abertura, faz a eterna ponte com Recife numa ode torta ao bairro nobre da cidade. O tom muda para a surf music com a rebolante “Só Serve pra Dançar”, primeiro single do trabalho. Muda de novo no dueto com Pitty na romântica “Overlock”.
 
 
Boa Parte de Mim Vai Embora - Vanguart
 
Boa Parte de
 Mim Vai Embora
 
Quatro anos separam o álbum de estreia do vanguart deste segundo registro em estúdio, e parece que Hélio Flanders e companhia passaram (neste intervalo) por todos os percalços que uma banda costuma enfrentar quando se envolve com a indústria musical – e essa situação quase pôs fim ao Vanguart. Desmentindo a despedida, Boa Parte de Mim Vai Embora mostra um grupo amadurecido e afiado em um disco que flagra o momento exato em que um dos lados de um casal aponta uma faca para o outro. 
 
 
Sonhando Devagar - Kassin
 
Sonhando 
Devagar
 
Presente no título e em várias faixas deste primeiro disco de Kassin depois da dissolução do + 2, o sonho inspira também a primeira constatação desta resenha. É um sonho, quase uma alucinação, que um álbum como este seja lançado com pompa e circunstância, que figure no espaço mais nobre da seção de críticas da Rolling Stone e ganhe destaque em todos os veículos que interessam na mídia nacional. Certamente, não houve nem haverá outro trabalho tão inusitado recebendo o mesmo tratamento em 2011.
Isso se dá pelos parâmetros galgados por Kassin como produtor. O carioca de 37 anos virou uma espécie de queridinho das cantoras nos últimos anos. De Adriana Calcanhotto a Thalma de Freitas, de Vanessa da Mata a Mallu Magalhães, de Thais Gulin a Ana Carolina, todas quiseram e levaram a produção dele – que, em tempos recentes, também deixou sua marca em álbuns de Graforréia Xilarmônica, Autoramas, Caetano Veloso e Jorge Mautner, só para citar alguns. Sua carreira como músico e produtor começou nos anos 90, com a banda Acabou La Tequila, uma referência para o Los Hermanos, com quem Kassin também trabalhou nos últimos dois CDs. Atualmente, ele ajeita o oitavo disco da Nação Zumbi.

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