Em ‘Tô um Lixo’, terceira faixa do álbum
‘Reza’ — primeiro de inéditas em nove anos —, Rita Lee canta: “Parei de
fumar/ Parei de beber/ Parei de jogar/”. Duas músicas depois, ainda em
tom confessional, ela prossegue assim em ‘Vidinha’: “Não uso mais droga/
Tomo ansiolítico/ Em estado crítico/ Na crise de pânico”. Para um
ouvinte desavisado, pode até parecer que a cantora está numa pior, mas,
segundo a ruiva, não passam de boatos.
“Mas por que vocês acham que toda a
letra é autobiográfica? Já vivi muita tarja preta nessa vida, mas hoje
só sou viciada em Coca-Cola. ‘Vidinha’ foi inspirada num amigo meu que
acha tudo uma m… ‘Tô um Lixo’ é sobre uma perua que vi no dentista”,
explica a Rainha do Rock, que, como de costume, volta a ocupar o topo
das paradas.
O novo álbum, construído na “garagem” de sua casa, com o eterno
parceiro Roberto de Carvalho, chegou à primeira posição no iTunes essa
semana. “Somos uma dupla há 36 anos. O que um toca o outro dança. Um
mete a colher no caldeirão do outro”, brinca ela, sem revelar de quem é o
toque de Midas.
Dessa vez, além de colaborar em quase
todas as 14 faixas, Roberto também fez a arte do CD. “ Sempre gostei de
fotografia. Fiz várias versões de capa. Minha escolhida era uma de rosto
inteiro, mas ela não queria capa carão”, diz o
multi-instrumentista.‘Reza’, segundo Roberto, tem todos os elementos de
um disco pop. “Gostamos de rock, MPB, eletrônica e bossa-nova. Só um
imbecil não sabe que atirar em muitos lados faz parte da dinâmica”,
defende ele.
Um desses tiros acerta na psicodelia dos
Mutantes. Em ‘Pow’, Rita toca o theremim, que emite sons a partir da
proximidade dos dedos. “Tudo que faço de bom dizem que tem cara de
Mutantes e o que julgam ruim tem a minha cara. Modéstia à parte, depois
de minha saída do trio, a coisa daquele lado ficou meio devagar”,
debocha ela, que anda meio preguiçosa. “Para fazer show a essa altura,
eu teria que treinar com Anderson Silva”, diz. Mas ‘Reza’ não merece um
registro? “Gravações só no conforto da minha garagem cheirosa”, avisa a
doce aposentada.
Por Guilherme Scarpa, publicado no
jornal O Dia em 25/04/2012.
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