segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A IRA DE NASI!

 
O Negro Controverso
 
A inspiração para o título desse prefácio veio de uma antiga camiseta que eu tenho e nela está estampado o rosto de Mick Jagger e em sua boca uma tarja escrito "The Controversial Negro".
Quando me convidaram para fazer esse texto, logo associei essa afirmação ao Nasi. Tá certo que ele não tem nada a ver com o vocalista dos Stones, mas existe uma alma negra dentro desse cara. Como tudo que escrevo, adoro rechear de referências e muita história do rock and roll e com Nasi não poderia ser diferente.
 
 
Desde os primórdios do Ira, daquela primeira vez que o vi ensaiando na raça sem microforne, reconheci nele uma pessoa determinada e ao mesmo tempo um ser humano sofrido e perturbado. A princípio era aquela vontade de gritar solta no ar, mas dava pra notar nas primeiras canções do Ira! Uma forte influência do Northern Soul britânico e um disfarçado suingue Motown nas entrelinhas. Se a inspiração primeira foi o punk do The Jam, ou o som da british Invasion do Who, todos eles beberam na fonte negra da Motown. Nasi tinha uma postura de Joe Strummer do Clash em palco, outro cidadão que adorava música negra e reggae e construiu seu personagem na história do rock nos moldes da rebelião negra de bairros incendiários como Brixton, na Inglaterra. Pois bem, chegamos ao cerne da questão – o rock foi criado pelos negros e veio do blues que evoluiu pro rhythm and blues e depois foi batizado de rock and roll. Muitos branquelos da british invasion no início dos anos sessenta queriam ser negros. O primeiro citado acima Sir (Mr) Mick Jagger começou cantando antigos blues em sua banda The Rolling Stones. Seus lábios grossos pareciam uma dádiva da raça negra e sempre fez questão de exibi-los ao entoar seus versos. Mick Jagger sempre encarnou um negro em suas performances, aprendeu a dançar vendo James Brown e Sly Stone. Declarou eternamente seu amor à Motown. Na mesma década de 60 em Newcastle, na Inglaterra aparecia um outro "controversial negro", seu nome Eric Burdon e sua banda The Animals. As primeiras vezes que vi cenas de Eric Burdon cantando com o Animals, se fechasse os olhos ouviria um negro americano e não um branquelo do interior da Inglaterra. No final dos anos sessenta Eric Burdon mudou pros Estados Unidos e fez uma pareceria com a banda negra WAR. Talvez um de seus maiores sonhos era estar à frente de uma banda de talentosos músicos negros e entoando os versos fantásticos de "Spill The Wine". Pois bem, nosso garoto Nasi me faz lembrar muito de Eric Burdon. Até mesmo fisicamente Nasi às vezes se assemelha a figura do celebre vocalista do Animals. Acho que ninguém nunca disse isso a ele, nem eu mesmo, pode ser que soe como uma surpresa e que ele pense, mas será que tem a ver?
Voltando no tempo, nosso negro controverso em 1986 se envolve com cena do rap nacional colaborando na produção do álbum "Cultura de Rua" e trabalha na produção dos dois primeiros álbum da dupla Thaide e DJ Hum. Em 91 seu projeto paralelo Nasi & Os Irmãos do Blues acaba gerando três grandes discos e realizando seu sonho de participar dos nossos festivais de blues da década de 90 ao lado de mestres como Pinetop Perkins, Magic Slim e Wilson Pickett etre outros. Em 2010 no álbum "Vivo na cena" além de resgatar a belíssima "Poeira nos Olhos" dos Irmãos do Blues, ainda revela sua crença e dedicação à religião e cultura africana em "Me dê sangue".
Garra e determinação, um verdadeiro guerreiro, esse é Nasi nosso controverso negro, assim como Elvis, Raulzito, Mick Jagger. Eric Burdon...
 
Kid Vinil – Prefácio para o livro A Ira de Nasi

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