O Negro
Controverso
A inspiração para o
título desse prefácio veio de uma antiga camiseta que eu tenho e nela
está estampado o rosto de Mick Jagger e em sua boca uma tarja escrito
"The Controversial Negro".
Quando me
convidaram para fazer esse texto, logo associei essa afirmação ao Nasi.
Tá certo que ele não tem nada a ver com o vocalista dos Stones, mas
existe uma alma negra dentro desse cara. Como tudo que escrevo, adoro
rechear de referências e muita história do rock and roll e com Nasi não
poderia ser diferente.
Desde os primórdios
do Ira, daquela primeira vez que o vi ensaiando na raça sem microforne,
reconheci nele uma pessoa determinada e ao mesmo tempo um ser humano
sofrido e perturbado. A princípio era aquela vontade de gritar solta no
ar, mas dava pra notar nas primeiras canções do Ira! Uma forte
influência do Northern Soul britânico e um disfarçado suingue Motown nas
entrelinhas. Se a inspiração primeira foi o punk do The Jam, ou o som
da british Invasion do Who, todos eles beberam na fonte negra da Motown.
Nasi tinha uma postura de Joe Strummer do Clash em palco, outro cidadão
que adorava música negra e reggae e construiu seu personagem na
história do rock nos moldes da rebelião negra de bairros incendiários
como Brixton, na Inglaterra. Pois bem, chegamos ao cerne da questão – o
rock foi criado pelos negros e veio do blues que evoluiu pro rhythm and
blues e depois foi batizado de rock and roll. Muitos branquelos
da british invasion no início dos anos sessenta queriam ser negros. O
primeiro citado acima Sir (Mr) Mick Jagger começou cantando antigos
blues em sua banda The Rolling Stones. Seus lábios grossos pareciam uma
dádiva da raça negra e sempre fez questão de exibi-los ao entoar seus
versos. Mick Jagger sempre encarnou um negro em suas performances,
aprendeu a dançar vendo James Brown e Sly Stone. Declarou eternamente
seu amor à Motown. Na mesma década de 60 em Newcastle, na Inglaterra
aparecia um outro "controversial negro", seu nome Eric Burdon e sua
banda The Animals. As primeiras vezes que vi cenas de Eric Burdon
cantando com o Animals, se fechasse os olhos ouviria um negro americano e
não um branquelo do interior da Inglaterra. No final dos anos sessenta
Eric Burdon mudou pros Estados Unidos e fez uma pareceria com a banda
negra WAR. Talvez um de seus maiores sonhos era estar à frente de uma
banda de talentosos músicos negros e entoando os
versos fantásticos de "Spill The Wine". Pois bem, nosso garoto Nasi me
faz lembrar muito de Eric Burdon. Até mesmo fisicamente Nasi às vezes se
assemelha a figura do celebre vocalista do Animals. Acho que ninguém
nunca disse isso a ele, nem eu mesmo, pode ser que soe como uma surpresa
e que ele pense, mas será que tem a ver?
Voltando no tempo,
nosso negro controverso em 1986 se envolve com cena do rap nacional
colaborando na produção do álbum "Cultura de Rua" e trabalha na produção
dos dois primeiros álbum da dupla Thaide e DJ Hum. Em 91 seu projeto
paralelo Nasi & Os Irmãos do Blues acaba gerando três grandes discos
e realizando seu sonho de participar dos nossos festivais de blues da
década de 90 ao lado de mestres como Pinetop Perkins, Magic Slim e
Wilson Pickett etre outros. Em 2010 no álbum "Vivo na cena" além de
resgatar a belíssima "Poeira nos Olhos" dos Irmãos do Blues, ainda
revela sua crença e dedicação à religião e cultura africana em "Me dê
sangue".
Garra e
determinação, um verdadeiro guerreiro, esse é Nasi nosso controverso
negro, assim como Elvis, Raulzito, Mick Jagger. Eric Burdon...
Nenhum comentário:
Postar um comentário