quarta-feira, 1 de agosto de 2012

BRock dos anos 1990, Vivo e Ativo!


 
Há duas décadas, o Skank gravava o primeiro CD do rock independente brasileiro, abrindo portas para toda uma nova geração


A banda mineira Skank em 1991
Foto: Divulgação/Weber de Pádua
 
1991, um jovem cantor mineiro sobe no palco e canta "Raça", música de seu conterrâneo Milton Nascimento, o chefe do Clube, numa versão pop da canção em homenagem aquele que ajudou a criar o estilo de uma banda que vinte anos depois se prepara para lançar um trabalho que tem como foco contar uma história. A história do Skank.
Em julho de 1992, a recém-formada banda encarava o estúdio para gravar o primeiro disco independente de rock brazuca com as músicas que tocava nos bares de Belo Horizonte. "In(dig)nação" e "O Homem Que Sabia Demais" cairiam de cara nas graças do grande público, rock misturado com reggae e o tempero mineiro do calango davam o tom de alto poder dançante. Com Samuel Rosa na guitarra e vocal, Henrique Portugal nos teclados, Lelo Zaneti no contra-baixo e Haroldo Ferretti na bateria, o disco "Skank” é gravado, álbum que deu a partida numa louca locomotiva ainda mais brasileira que a dos anos 80, levando em seus muitos vagões O Rappa, Raimundos, Pato Fu, Chico Science & Nação Zumbi e Planet Hemp. Surge então o BRock dos anos 90.

— Acho que se tivéssemos esperado um pouco mais para gravar aquele disco, teríamos perdido o trem da História — avalia Samuel.
O Skank esta lançando o CD "91", disco que mostra versões caseiras de algumas canções, além da já citada "Raça" tem também a clássica "Telefone" do eterno Júlio Barroso. Registros ao vivo de apresentações no Aeroanta com o baixista e baterista recem chegados e um público de apenas 37 pessoas e na Reggae Night, outro fracasso de público onde o apresentador lamenta a casa estar vazia. Tudo isso se ouve no disco. Massa!
Em 94 lançaram "Calango" com "Jack Tequila", "A Cerca", "Te Ver" e uma versão "É Proibido Fumar" do Roberto Carlos, a partir daí a banda conquistava seu posto de uma das mais importantes da música nacional. É dessa época o memorável show no extinto Olímpia.
— Nós fomos mineiramente comendo pelas beiradas — conta Samuel. — O disco vendeu cem mil cópias, o que não foi nem um passo maior que a perna nem razão para o ostracismo da gravadora.
— Na época, eu estava vidrado em hip-hop. O Skank era pop, mas tinha o dancehall, com o qual simpatizei de cara. E eles eram independentes, como a maioria dos discos que eu ouvia — diz o rapper BNegão, que em 1995, junto com Planet Hemp, entrou para a Sony e assim também fez parte do selo Chaos, inaugurado pelo CD de estreia do Skank.
— Havia aquela máxima de que se você fazia disco independente é porque tinha sido rejeitado pelas gravadoras — conta Samuel. — Mas, naquela altura, não havia mais esse preconceito, porque as gravadoras não estavam contratando ninguém. E o rock já não era mais o filão.
 
 
Ressaca da onda rock oitentista
 
O guitarrista Xandão da banda carioca O Rappa fala sobre a ressaca do BRock dos anos 80 no mercado fonográfico. O Rappa que em 1992 dava seus primeiros passos.
— Os caras lançaram um monte de bandas vendo o que ia colar. Quando a gente chegou, já era o rabo do foguete. Era bacana ver o Skank, mas a gente estava indo para outro lado, o da Jamaica dub. Se tivéssemos gravado um disco de reggae pop, certamente teríamos feito sucesso. Mas nos recusamos a assinar contrato com uma gravadora que queria nossas letras.
 
 
Outra banda da mesma época que não se dobrou ao pop foi o Raimundos, de Brasília, como comenta o guitarrista Digão:
— A gente sempre pensou em entrar para uma gravadora, e chegou a ir à Sony, mas eles queriam mexer nas nossas letras. Agradecemos e fomos embora — A banda acabou assinando em 1994 com o selo Banguela, criado pelos Titãs. Também em 1994 e também pelo selo Banguela os pernambucanos do Mundo Livre S/A lançam seu CD de estréia, o elogiado "Samba Esquema Noise".
 
 
E o Recife tinha ainda mais para mostrar. Na sequência surge Chico Science e sua Nação Zumbi.
— Foi quando fomos pra São Paulo para fazer uns shows e programas de TV — diz o ex-percussionista (e hoje vocalista) Jorge du Peixe. — As perspectivas eram as melhores possíveis. Chico estava determinado a encarar o que viesse. Estava na hora de colocar o plano em prática.
E o plano deu certo: em 1994, Chico e a Nação lançavam pelo Chaos seu primeiro disco, “Da lama ao caos”. Assim como Skank, Raimundos e O Rappa, ele vinha na contramão do rock em voga no Brasil em 1992, que era cantado em inglês, sem traços musicais de brasilidade.
 
 
— O Sepultura e as bandas de indie rock eram o que estava acontecendo. O rock estava muito em baixa, parecia que, se você não fizesse aquilo, ninguém ia ouvir — acredita John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, banda mineira que lançou seu primeiro disco, “Rotomusic de liquidificapum”, em 1993. — E o engraçado é que esse disco a gente lançou pela Cogumelo (selo do Sepultura, coalhado de bandas de metal cantando em inglês).
— Em 1993, a gente foi tocar no festival Juntatribo, em Campinas — lembra Digão, dos Raimundos. — Fora nós, o Linguachula e o Kid Vinil, todo mundo cantava em inglês.
Expressando-se, curiosamente, em português, pouco tempo depois (em 1996) Chico Science & Nação Zumbi estariam fazendo turnê pela Europa. E, no mesmo ano, o Sepultura lançaria “Roots” disco com índios xavantes e Carlinhos Brown.
 
 
Hoje, fora o Planet Hemp que se dividiu nas carreiras solo de Marcelo D2, BNegão e Black Alien, os grupos estão todos aí. O Skank lançando o disco "91" pretende fazer apresentações ao vivo. A Nação Zumbi, que seguiu em frente após a morte de Chico Science, em 1997, vai lançar um disco em 2013. O Rappa está começando a gravar seu primeiro álbum de inéditas em quatro anos, previsto para sair ainda em 2012. E também em 2012, os Raimundos lançam pela Deck Disc um projeto especial com o Ultraje a Rigor: um disco em que cada banda canta músicas da outra. O Pato Fu solta álbum de inéditas até o começo do ano que vem e tem planos de fazer um circuito comemorativo de shows do CD 1995, “Gol de quem?”.
 

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