Há duas décadas, o Skank gravava o primeiro CD do rock independente
brasileiro, abrindo portas para toda uma nova geração
— Acho que se tivéssemos esperado um pouco mais para gravar aquele disco, teríamos perdido o trem da História — avalia Samuel.
O Skank esta lançando o CD "91", disco que mostra versões caseiras de
algumas canções, além da já citada "Raça" tem também a clássica "Telefone" do
eterno Júlio Barroso. Registros ao vivo de apresentações no Aeroanta com o
baixista e baterista recem chegados e um público de apenas 37 pessoas e na
Reggae Night, outro fracasso de público onde o apresentador lamenta a casa estar
vazia. Tudo isso se ouve no disco. Massa!
Em 94 lançaram "Calango" com "Jack Tequila", "A Cerca", "Te Ver" e uma
versão "É Proibido Fumar" do Roberto Carlos, a partir daí a banda conquistava
seu posto de uma das mais importantes da música nacional. É dessa época o
memorável show no extinto Olímpia.
— Nós fomos mineiramente comendo pelas beiradas — conta Samuel. — O disco
vendeu cem mil cópias, o que não foi nem um passo maior que a perna nem razão
para o ostracismo da gravadora.
— Na época, eu estava vidrado em hip-hop. O Skank era pop, mas tinha o
dancehall, com o qual simpatizei de cara. E eles eram independentes, como a
maioria dos discos que eu ouvia — diz o rapper BNegão, que em 1995, junto com
Planet Hemp, entrou para a Sony e assim também fez parte do selo Chaos,
inaugurado pelo CD de estreia do Skank.
— Havia aquela máxima de que se você fazia disco independente é porque
tinha sido rejeitado pelas gravadoras — conta Samuel. — Mas, naquela altura, não
havia mais esse preconceito, porque as gravadoras não estavam contratando
ninguém. E o rock já não era mais o filão.
Ressaca da onda rock oitentista
O guitarrista Xandão da banda carioca O Rappa fala sobre a ressaca do BRock
dos anos 80 no mercado fonográfico. O Rappa que em 1992 dava seus primeiros
passos.
— Os caras lançaram um monte de bandas vendo o que ia colar. Quando a gente
chegou, já era o rabo do foguete. Era bacana ver o Skank, mas a gente estava
indo para outro lado, o da Jamaica dub. Se tivéssemos gravado um disco de reggae
pop, certamente teríamos feito sucesso. Mas nos recusamos a assinar contrato com
uma gravadora que queria nossas letras.
Outra banda da mesma época que não se dobrou ao pop foi o Raimundos, de
Brasília, como comenta o guitarrista Digão:
— A gente sempre pensou em entrar para uma gravadora, e chegou a ir à Sony,
mas eles queriam mexer nas nossas letras. Agradecemos e fomos embora — A banda
acabou assinando em 1994 com o selo Banguela, criado pelos Titãs. Também em 1994
e também pelo selo Banguela os pernambucanos do Mundo Livre S/A lançam seu CD de
estréia, o elogiado "Samba Esquema Noise".
E o Recife tinha ainda mais para mostrar. Na sequência surge Chico Science
e sua Nação Zumbi.
— Foi quando fomos pra São Paulo para fazer uns shows e programas de TV —
diz o ex-percussionista (e hoje vocalista) Jorge du Peixe. — As perspectivas
eram as melhores possíveis. Chico estava determinado a encarar o que viesse.
Estava na hora de colocar o plano em prática.
E o plano deu certo: em 1994, Chico e a Nação lançavam pelo Chaos seu
primeiro disco, “Da lama ao caos”. Assim como Skank, Raimundos e O Rappa, ele
vinha na contramão do rock em voga no Brasil em 1992, que era cantado em inglês,
sem traços musicais de brasilidade.
— O Sepultura e as bandas de indie rock eram o que estava acontecendo. O
rock estava muito em baixa, parecia que, se você não fizesse aquilo, ninguém ia
ouvir — acredita John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu, banda mineira que lançou
seu primeiro disco, “Rotomusic de liquidificapum”, em 1993. — E o engraçado é
que esse disco a gente lançou pela Cogumelo (selo do Sepultura, coalhado de
bandas de metal cantando em inglês).
— Em 1993, a gente foi tocar no festival Juntatribo, em Campinas — lembra
Digão, dos Raimundos. — Fora nós, o Linguachula e o Kid Vinil, todo mundo
cantava em inglês.
Expressando-se, curiosamente, em português, pouco tempo depois (em 1996)
Chico Science & Nação Zumbi estariam fazendo turnê pela Europa. E, no mesmo
ano, o Sepultura lançaria “Roots” disco com índios xavantes e Carlinhos
Brown.
Hoje, fora o Planet Hemp que se dividiu nas carreiras solo de Marcelo D2,
BNegão e Black Alien, os grupos estão todos aí. O Skank lançando o disco "91"
pretende fazer apresentações ao vivo. A Nação Zumbi, que seguiu em frente após a
morte de Chico Science, em 1997, vai lançar um disco em 2013. O Rappa está
começando a gravar seu primeiro álbum de inéditas em quatro anos, previsto para
sair ainda em 2012. E também em 2012, os Raimundos lançam pela Deck Disc um
projeto especial com o Ultraje a Rigor: um disco em que cada banda canta músicas
da outra. O Pato Fu solta álbum de inéditas até o começo do ano que vem e tem
planos de fazer um circuito comemorativo de shows do CD 1995, “Gol de
quem?”.
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