Se em seu álbum de estreia, “Bárbaro”
(2010), a Trupe surgiu com uma estética um tanto carnavalesca nas composições,
performances, figurino e promovendo bailes animados, “Nave Manha” experimenta
outros modos de apresentação. As mudanças chegam sem nenhum prejuízo ao clima
festivo e despretensioso que sempre caracterizou o grupo.
Gustavo Ruiz, produtor do disco
“Efêmera” que marca a estreia da cantora Tulipa Ruiz, é sem dúvida um dos guias
deste caminho. Com produção impecável, o trabalho traz onze faixas de autoria da
banda, com exceção de “Mar Morro”, de Tatá Aeroplano e Fernando Maranho do
Cérebro Eletrônico. Compostas nos últimos dois anos, as faixas explicitam a
convivência dos músicos com a cidade de São Paulo, mas também remetem às viagens
- reais ou imaginárias – protagonizadas pela banda.
Não à toa, a canção “No Escuro”, que
inaugura o álbum, desenha a transição do primeiro trabalho para cá, citando a
Estação da Luz e a Avenida Paulista. A voz de Gustavo Galo ganha coro feminino
que atesta que “nenhum beijo é igual”, tudo marcado por rico arranjo de metais.
“Nave Manha” desce a Rua Augusta em “A Rolinha e o Minhocão”, inicialmente uma
marchinha de carnaval, composta por Gustavo Galo e Dan Leite, um dos fundadores
da Trupe, que ganhou ares de “charme carioca” com o arranjo de Ruiz.
Marcelo Pretto e Lu Horta, do
Barbatuques, dividem com a banda vocais e percussão corporal em “Se Eu For
Parar”, canção entoada por Ciça Góes, uma das cantoras da Trupe. A faixa também
conta com participação de Alzira Espíndola, que pontua a cadência da melodia com
seu canto falado. Depois é a vez de Júlia Valiengo e Galo se dividirem nos
vocais de “Apesar”, poesia acompanhada por elegantes linhas de baixo, bateria e
guitarra e arranjo de sopros.
No roteiro de viagem dessa espécie de
“road-álbum” estão ainda as capitais do estado do Pará e da Alemanha, na
dançante “Belém Berlin”. O folk que desemboca em carimbó, numa deleitável
referência ao gênero musical paraense, traz solo de guitarra fuzz tocada por
André Abujamra. “Box 11”, única faixa cantada pelo baterista Pedro Gongom, é um
pop de baile que cresce ao longo da canção com um arranjo de metais jazzy
dividido por Marcos Ferraz e Rayraí Galvão. O título da música se refere ao box
de mesmo número da banca de flores da avenida paulistana Dr. Arnaldo.
Momento em que o álbum explora um
território mais eletrônico, em “Na garrafa” Julia Valiengo e Guto Nogueira
cantam: “Não quero gota / Eu quero o gosto / De te tomar inteiro / Pra ver se
chapa”. “Mar Morro” – já registrada na voz de Tatá Aeroplano, no álbum “Pareço
Moderno” do Cérebro Eletrônico – desce o morro soturnamente e ganha o mar em
clima entusiasmado e menos melancólico nesta versão da Trupe.
A cantora baiana Márcia Castro divide
com Gustavo Galo os vocais da canção “Verão”, que ganhou novo arranjo de metais
graves e intenção afrobeat na produção de Ruiz. “Melhor com asa que em casa”,
canta a Trupe frisando a busca musical da banda por novos caminhos. Com ares de
jovem guarda, “Splix”, parceria de Galo e Peri Pane, questiona, numa brincadeira
com a sonoridade de “explique-se”, o estilo musical da Trupe. “O que toca a
banda? / Toca samba ou toca rumba, o quê que a banda toca? / Pop, punk ou polca?
/ A banda toca o que? / Indie, Rock, Amy, MPB?”. Pouco importa o nome aos bois,
“o som é só uma onda, curta”.
A viagem musical da Trupe Chá de Boldo
termina com “Até Chegar no Mar”, letra em que a banda afirma a transformação
pela qual passou desde o lançamento de “Bárbaro”.
Sexta 03/08
Porta 21h / Show 22h
Entrada R$25,00
Lista R$15,00
StudioSP Vila madalena - Rua: Inácio
Pereira da Rocha, 170
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