"Quando aparece um ofendido que se acha no direito de vir me
inquirindo com aquela famosa pergunta: "Quem é você?", eu respondo: Eu
sou O NADA, drogado, decadente, matricida, epilético, reacionário,
roqueiro. E como NADA eu vou contar para vocês a história da Terra do
Nunca, o Brasil-Peter Pan que se recusa a crescer.
Lobão leva o leitor a pensar por conta própria e prova ser possível
- e necessário - divergir com elegância. É, como ele mesmo diz, "chumbo
grosso envolto em nuvens de veludo". Do seu ponto de vista original,
Lobão traça uma jornada tragicômica pela estética e a política do Brasil
contemporâneo.
Com tiragem de 40 mil exemplares -- o anterior saiu com 10 mil--, o
livro traz duras críticas a figuras dos meios artístico e político do
país.
Para a feitura do livro, que demorou sete meses, o compositor diz
ter lido mais de 60 obras --de Slavoj Zizek a Olavo de Carvalho e "tudo
sobre a Semana de Arte de 1922"-- para sustentar argumentos.
Em "Manifesto do Nada na Terra do Nunca", Lobão defende que as
ideias propostas na Semana de 1922 acabaram por moldar todo o pensamento
cultural brasileiro até os dias de hoje, influenciando movimentos
posteriores, como o cinema novo, o concretismo e a tropicália.
Ele argumenta que a antropofagia, base da Semana de 22, que
defendia uma arte brasileira que bebesse das vanguardas estrangeiras,
não passava de mero nacionalismo.
Ao longo de quase 300 páginas, quase ninguém escapa da mira de
Lobão.
A presidente Dilma Rousseff é chamada de "torturadora" --em
capítulo cujo título é "Vamos Assassinar a Presidenta da República?"--,
Roberto Carlos, de "múmia deprimida" e os Racionais MCs, de "braço
armado do PT".
Além disso, ele explica sua briga com os organizadores do festival
Lollapalooza, no ano passado, quando desistiu de se apresentar por ter
se considerado subestimado.
Lobão diz que sua apresentação na Virada Cultural, em maio, será um
termômetro da reação do público. "Quando escrevia o livro, tive medo de
ser 'simonalizado' [referência a Wilson Simonal], tachado de
reacionário. Vamos ver se terei espaço para trabalhar."
(Folha de S.Paulo)
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