terça-feira, 19 de julho de 2016

TITÃS: um ranking do pior ao melhor álbum

Por Marcos Andrade


Enquanto Houver Sol“, “Provas de Amor“, “Epitáfio“? Vão se foder! Porque aqui nesse ranking, só álbum sinistro e escroto é que vai ter!
Brincadeiras à parte, não existe disco ruim dos Titãs(pelo menos na opinião deste que vos fala, com intenção nenhuma de fazer média). Por outro lado, há aqueles bons registros que não deixaram sua marca para a posteridade, os medianos e os que beiram a genialidade que ficaram esquecidos no meio do vasto catálogo e dos trabalhos mais conhecidos e renomados do grupo. Sem injustiças, todos os álbuns da banda foram revisitados e escutados exaustivamente para decidir: Qual o melhor? E o pior? E quais figuram entre os melhores, mas ficam na sombra do badalado, relançado e comemorado Cabeça Dinossauro (será ele o número um)? Descubra!
14. Como Estão Vocês? (2003)

Ainda alquebrados pela morte de Marcelo Fromer em 2001 e pela saída de Nando Reis em 2002, os Titãs não estavam tão bem quanto queriam demonstrar na faixa de abertura (“Nós Estamos Bem“, por sinal uma das melhores do trabalho). Mesmo que “Provas de Amor“, “Eu Não Sou Um Bom Lugar“, “Ser Estranho“, “Vou Duvidar” e “A Guerra É Aqui” sejam bacanas, o disco se estende muito e é um dos mais fracos do grupo, dando a entender que o produtor Liminha e os integrantes não foram tão exigentes com suas próprias habilidades e potencial.
13. As Dez Mais (1999)
Em clima de férias depois dos sucessos comerciais do Acústico MTV e de Volume DoisAs Dez Mais é o único álbum do grupo sem nenhuma inédita e se limita a homenagear os artistas favoritos dos integrantes. Se algumas versões ficaram muito boas, a exemplo de “Gostava Tanto de Você” e “Querem Acabar Comigo“, outras careceram de inspiração (“Rotina“, “Sete Cidades“). “Pelados em Santos“, que ganhou até clipe, ficou anos luz aquém da original, mesmo sem pretensão nenhuma de sê-lo.
12. Sacos Plásticos (2009)
Massacrado por uma série de críticos, o último disco da banda com o baterista Charles Gavin não é desastroso como dizem, inclusive ganhou o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Rock Brasileiro, dividindo o prêmio com Agora, do NX Zero (!).
Entretanto, as fracas baladas e a produção sem brilho de Rick Bonadio (não se pode acertar em todas) fizeram com que o registro entrasse em esquecimento pouco após ser lançado. Destacam-se a faixa título e as músicas “Problema” e “Deixa Eu Entrar” (com participação de Andreas Kisser).
11. Volume Dois (1998)
O campeão de vendas entre os trabalhos de estúdio dos Titãs surfou na onda do Acústico MTV e deu nova roupagem a outros sucessos da banda que não haviam entrado no registro desplugado e ao vivo de 1997.
Volume Dois peca pela falta de ineditismo, já que as inéditas presentes nesse álbum não são grande coisa assim como as do acústico. Seu grande trunfo são o cover de “É Preciso Saber Viver” e as versões para “Insensível” e “Não Vou Me Adaptar” (ambas presentes emTelevisão, de 1985), que ficaram bem melhores que as originais. Esta última, composta e cantada antes por Arnaldo Antunes, foi reinterpretada de forma belíssima com os vocais de Nando Reis.
10. A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana (2001)
O último disco dos Titãs produzido por Jack Endino também foi o primeiro sem Marcelo Fromer (embora o guitarrista tenha participado de algumas composições). Variando entre faixas fortes (“Vamos ao Trabalho“), divertidas (“A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana“) e o mega hit “Epitáfio“, talvez o maior defeito do álbum seja sua longa duração (quase 50 minutos).
Nando Reis sairia da banda no ano seguinte ao lançamento e suas letras já eram mais a cara do que viria a ser sua carreira solo, assim como ficou também evidente em Domingo.
9. Titãs (1984)
O álbum de estreia do grupo tem destaque principalmente pelas músicas que ficaram no repertório dos shows e na cabeça dos fãs por muito tempo, talvez até eternamente. Com a melhor balada da banda até hoje (“Go Back“, que recebeu melhores tratamentos posteriormente), o sucesso “Sonífera Ilha” e três versões de músicas estrangeiras reimaginadas em português (“Marvin“, “Querem Meu Sangue“, “Balada para John e Yoko“), não seria a fraca produção que transformaria o disco homônimo em um trabalho ruim. Ainda vale lembrar que esse é o único registro com o baterista André Jung.
8. Televisão (1985)
Já com Charles Gavin substituindo André Jung, os Titãs se juntaram a Lulu Santos(responsável pela produção) e, assim como em seu predecessor, gravaram mais uma série de faixas memoráveis que foram revisitadas em trabalhos futuros com um resultado muito melhor (“Pra Dizer Adeus“, por exemplo).
Ainda assim, “Insensível” e a faixa título chegaram ao topo das paradas ainda em 1985 e “Pavimentação” e “Massacre” eram tocadas nos shows com energia titânica. “Não Vou Me Adaptar“, reinterpretada no já citado Volume 2, tinha força assombrosa também em Televisão.Ciro Pessoa, que deixou o grupo antes da gravação do primeiro álbum, assinava algumas das composições.
7. Tudo ao Mesmo Tempo Agora (1991)
A partir daqui as decisões de ordem começam a ficar complicadas nessa contagem regressiva.
Sem ninguém para impedir a sujeira nas letras e no som, já que a produção do álbum foi dos próprios TitãsTudo ao Mesmo Tempo Agora (último de Arnaldo Antunes com o grupo) chega a soar meio exagerado em certas partes, mas conta com uma excelente abertura (“Clitóris“, que por sinal é animal ao vivo, com Paulo Miklos sempre destruindo na performance vocal) e reforça o rock de letras minimalistas que só a banda sabe fazer.
Alguns versos presentes nas músicas, como “A cabeça do pau/Faz esporra de leite/Pra tomar de manhã/No café da manhã” (em “Isso para Mim É Perfume“) assustaram o público e o trabalho vendeu bem menos que seus três predecessores. Ainda assim, é um belo exemplar de disco de rock cru e barulhento.
6. Domingo (1995)
Domingo resgatou a essência pop presente nos primeiros dois trabalhos dos Titãs, sem perder a consistência. Menos pesado (só um pouquinho menos), mas igualmente competente na execução do rock and roll, o disco colocou a banda novamente na crista da onda da popularidade.
Como de costume, a abertura é sensacional (“Eu Não Aguento“, composta pela banda Tiroteio e com introdução de “Sangue Latino”). Além de “Domingo“, faixas menos populares como “Tudo O Que Você Quiser“, “Tudo em Dia“, “Ridi Pagliaccio“, “Turnê” e “Uns Iguais aos Outros” merecem atenção.
O trabalho é o preferido do produtor Jack Endino.
5. Nheengatu (2014)
Com metade de seu contingente, os Titãs arrebentaram em Nheengatu, superando todas as expectativas. O disco é pesado, com letras fortes e cheio de palavrões, fruto de tudo o que o grupo revisitou durante os cinco anos sem gravar em estúdio (quando lançou Titãs e Xutos & Pontapés Ao Vivo no Rock in Rio 2011 e Cabeça Dinossauro ao Vivo 2012, focando em ambos quase que inteiramente no que havia de mais punk na carreira da banda).
Sérgio Britto berrou brilhantemente em “Fala, Renata” e Branco Mello surtou como em seus melhores tempos nas músicas “República dos Bananas” (composta tendo como base parte da obra do genial quadrinista Angeli), “Chegada ao Brasil” e “Canalha“. Bravo!
4. Õ Blésq Blom (1989)
Esse é o favorito de muita gente. Na época os Titãs eram mais populares que qualquer outra banda brasileira e aumentando novamente os elementos eletrônicos e o volume do baixo, o grupo foi mais pop sem deixar de ser rock.
Trazer a dupla de repentistas pernambucanos Mauro e Quitéria pra abrir e fechar o álbum foi uma maluquice genial que encaixou perfeitamente no perfil do disco. A transição de “Natureza Morta” para o riff icônico da mórbida “Flores” seria o melhor momento do trabalho, não fosse “O Pulso” roubar a cena na sequência. Mais um ponto pra produção de Liminha, que fez por merecer a sua alcunha de nono titã.
3. Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987)
Um verdadeiro pecado colocar este álbum na terceira posição. Em seu quarto disco de estúdio, osTitãs apresentaram um entrosamento impecável. Mantendo o peso de Cabeça Dinossauro e adicionando elementos eletrônicos, a quase perfeição de Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas se deve muito ao fato das “podadas” cirúrgicas do produtor Liminha.
A dobradinha “Todo Mundo Quer Amor“/”Comida” cantada por Arnaldo Antunes e as épicas “Corações e Mentes” (“Às vezes acho que te amo/Às vezes acho que é só sexo”), “Diversão” (talvez a melhor música da banda) e “Violência” (esta última presente na versão em CD do trabalho) só faziam crescer a fama do grupo, que aproveitou o sucesso para gravar seu primeiro registro ao vivo logo em seguida (Go Back, de 1988).
2. Titanomaquia (1993)
O disco mais pesado de todos e o primeiro da banda sem Arnaldo Antunes não costuma ser tão reconhecido quanto os registros gravados entre 1986 e 1989. Todavia, em Titanomaquia osTitãs abraçaram um hard rock sinistro, sobrecarregado, tenso e nervoso. Claro que teve muito da produção de Jack Endino, que veio de Seattle tendo no currículo trabalhos com o Soundgarden,Mudhoney e NirvanaEndino, que viria a produzir mais 3 álbuns de estúdio com o grupo, é a segunda figura mais importante na história do então septeto, sem evidentemente considerar os integrantes.
Performances surtadas de Branco Mello (“Estados Alterados da Mente”, “Dissertação do Papa Sobre O Crime Seguida de Orgia”), Paulo Miklos (“Disneylândia”, “A Verdadeira Mary Poppins”) e dos guitarristas Marcelo Fromer e Tony Bellotto (em especial na faixa “Tempo pra Gastar”) dão o tom do disco, que não tem nenhuma grande música de sucesso entre as conhecidas do público geral.
1. Cabeça Dinossauro (1986)
Sem hipocrisia. Tem que ser muito diferentão pra falar que Cabeça Dinossauro não é a obra-prima máxima dos Titãs. O álbum é um dos melhores (senão o melhor) do rock brasileiro e um dos mais importantes da música nacional, ponto.
Tudo o que for falado sobre o terceiro disco do grupo provavelmente já foi dito, mas vale ressaltar que o trabalho foi o primeiro com o dedo de Liminha na produção (e também nas guitarras, percussão, bateria eletrônica…). Desde a capa com o homem urrando, passando pelas 13 destrutivas e emblemáticas faixas (11 delas tocaram nas rádios!), ficavam visíveis os novos rumos tomados pela banda, influenciada pelo punk e o funk rock.
Como é impossível escolher só um ou dois destaques, fica aqui a curiosidade (que o mundo inteiro já sabe) de que “Polícia“, cantada (ou seria gritada?) por Sérgio Britto (que também mandou muito bem nos agudos em “AA UU“) e composta pelo guitarrista Tony Bellotto (melhor composição do cara) resultou da revolta de Bellotto por sua prisão, juntamente com Arnaldo Antunes, por posse de heroína. Na época a indignação virava arte e não xingamentos semi-politizados vomitados de qualquer forma em redes sociais.
Em plenos anos 80, os Titãs não apenas lançavam como atingiam posições de destaque nas paradas e tocavam em programas de televisão músicas cheias de conteúdo e protesto como a já citada acima, “Homem Primata”, “Igreja” e “Bichos Escrotos”.
Consegue imaginar isso hoje em dia?

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