quinta-feira, 7 de março de 2013

A polêmica sobre "Pobre Paulista"


Lado A do compacto, "Pobre Paulista" foi composta por Edgard Scandurra aos 17 anos, consistindo numa crítica à opressão dos governantes de sua cidade natal. Mas a canção desperta dúvidas (ou o furor) de pessoas quanto aos versos da terceira estrofe que, numa interpretação superficial, passam a ideia de bairrismo e preconceito contra as populações de migrantes provenientes de outras regiões do Brasil que encontram residência e trabalho em São Paulo - notadamente, indivíduos oriundos das regiões Norte e Nordeste ("Não quero ver mais essa gente feia/Não quero ver mais os ignorantes/Eu quero ver gente da minha terra/Eu quero ver gente do meu sangue").
O apelido Nasi, do vocalista Marcos Valadão, o bracelete com a bandeira do estado de São Paulo usado por Edgard nas apresentações da banda e a proximidade com a cena punk paulistana, onde grupos como o Olho Seco traziam no repertório músicas como "Nada" (dos versos "Você devia de proibir [sic] a migração do povão/A praça Princesa Isabel já virou clube de camping") faziam sedimentar ainda mais a ideia de o Ira ser um grupo declaradamente fascista. Edgard e Nasi desmentem tal versão, atestando que não há conotações ao fascismo no trecho, e sim uma crítica "camuflada" às pessoas que apoiavam a ditadura - seriam essas as "feias e ignorantes", e não pessoas de outras cidades.
Em 2008, Nasi relatou em uma entrevista a Revista Trip que Scandura já tinha confessado que a música era preconceituosa com os migrantes, e que por isso nunca mais a cantou. Trecho da entrevista: "Eu estava num bar com minha ex-namorada e um casal de amigos, depois de um show do Acústico MTV. Apareceu o Edgard bem na hora que o meu amigo estava falando sobre "Pobre paulista". O Edgard senta na mesa e diz assim: "Olha, não é nada disso, não tem nada dessa história de rebeldia juvenil. Realmente é um preconceito contra a invasão de nordestinos, era o que eu estava pensando na época e foi isso o que eu quis dizer mesmo, eu não aguentava essa coisa de música baiana, de Caetano, de Gil". Na hora, esse foi mais um dos insights que eu tive. Defendi durante anos essa letra, carreguei essa cruz. Agora, naquele dia, eu saí de lá falando assim "eu nunca mais canto essa música".".Entrevista de Nasi a Revista Trip"


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