Entre, querido, e me dê
logo um abraço! Fique à vontade. Há quanto tempo, não? Valha-me Nosso
Senhor Jesus Cristo! Faz o quê? Dez anos? Quinze? Você não mudou nada.
Mudou? Seus cabelos ganharam alguns fios brancos? Alguns, não – muitos?
Pode ser, pode ser. Que importa? Minha barba também branqueou um pouco.
Já meus cabelos continuam escuríssimos. Se os tinjo? De jeito maneira!
Não preciso. Em minhas veias, corre sangue de negro, de mouro. Envelheço
devagar. Mas me acompanhe, rapaz, quero lhe mostrar uns infográficos
que preparei. São três no total. Está vendo? Os três bem coloridos. Vou
encartá-los no meu novo disco, que planejo lançar em julho. Sim, lembram
de leve o tal... Qual o nome do troço? Setenta e cinco anos nas costas,
a memória me trai... PowerPoint, claro! Examine-os com calma, hein?
Juntos, os três resumem a tese do álbum. Explicam o que é a creche
tropical, a banca
de preceptores-babás, o berçário dos analfatóteles, o elementarismo
degenerado...
“Calma, Tom Zé! Assim você assusta o moço!”
Correto, correto. Neusa
tem razão. Ela tem sempre razão. A gente se casou em... Quando foi
mesmo, filhinha? 1970! Desde então, acordo todos os dias, viro para o
lado e peço: “Atende, musa!” Nos Estados Unidos, a chamam de mrs.
Zé, olhe só. Pois esqueça os gráficos com cara de PowerPoint. Primeiro,
é melhor você ouvir o disco sem tomar conhecimento de tese nenhuma.
Escute-o como um anjo, na mais pura inocência. Não vai demorar, não.
Prometo. São 16 músicas. Coisa de 50 minutos. Tenha paciência, viu?
Minha Virgem Maria, você ainda está de pé?! Tire a mochila, por
misericórdia! Ô, Tom Zé, que falta de educação! Nem convidou o
pobrezinho para sentar. Agora não adianta... Faça a gentileza de me
seguir. Abandonemos a sala. Tchau, sala! Vamos ouvir o álbum em meu
estúdio, num quarto aqui do lado. Acomode-se. Espere que vou ligar o
som. Que tal o volume? Baixo
demais?

Lançamento do CD 'Tropicália Lixo Lógico', em que o cantor e
compositor Tom Zé aborda o tropicalismo, movimento que revolucionou a
música brasileira na década de 1960.
Dia 29 de novembro, às 21 horas no SESC Ipiranga. Entrada 20 inteira e 10 meia.
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