Riba de Castro foi um dos fundadores do teatro Lira
Paulistana, espaço que, durante seus sete anos de existência
(1979-1986), reuniu as mais diversas tribos da música independente
produzida na cidade de São Paulo e nos arredores. Quando o cantor e
compositor Itamar Assumpção morreu em 2003, Riba começou a esboçar um
livro que contaria a história do teatro. O livro ainda não se
concretizou, mas a partir dele foi se delineando a ideia do
documentário, Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista, que chega aos cinemas no próximo dia 15 de novembro.
É comum associar o nome do local aos artistas que
compuseram a vanguarda paulista dos anos 1980. Premeditando o Breque,
Língua de Trapo, Grupo Rumo, Itamar Assumpção e sua Banda Isca de
Polícia são alguns dos grupos que por ali passaram, realmente. Mas
representam uma pequena parcela dos que ali se apresentaram. Para
recontar a história, foram entrevistadas 65 pessoas, entre elas Paulo
Tatit, Arrigo Barnabé, Eduardo Gudin, Wandi Doratiotto, Lanny Gordin,
Amilson Godoy, Vânia Bastos, Tetê Espíndola, Nelson Ayres, Paulo
Lepetit, Suzana Sales, Marcelo Tas, Maurício Kubrusly, Paulo Caruso e
Fernando Meirelles, que abriu a sua primeira produtora de vídeos, a
Olhar Eletrônico, também na Praça Benedito Calixto, em frente ao Lira.
O pequeno espaço chegava a comportar 250 pessoas e ali
passaram expoentes da música de São Paulo dos mais diversos gêneros: de
Almir Sater ao grupo punk Inocentes, da música instrumental do Grupo Um
ao lirismo de Tetê Espíndola. Grupos de rock que depois ganhariam renome
nacional, como Ultraje a Rigor e Titãs, foram “pescados” no Lira
Paulistana. “Nas catacumbas aconteciam coisas que não aconteciam na
superfície”, conta Luiz Tatit em sua entrevista a Riba de Castro.
O teatro era comumente frequentado pelos membros das bandas
que ali se apresentavam. Com o passar dos primeiros anos, o Lira
Paulistana ampliou-se. Passou a atuar como gravadora, criou um jornal
homônimo e fez do muro ao lado uma tela para intervenções artísticas que
seriam trocadas a cada dois meses. Com a gravadora, o pontapé inicial
foi com o álbum de estreia de Itamar Assumpção, Beleléu (1980). Seguiram-se discos do Grupo Rumo, Premeditando o Breque, Grupo Um, Patife Band, Tiago Araripe, entre outros.
Riba de Castro conta que resolveu levantar a história do
teatro antes que outra pessoa o fizesse, para mostrar toda essa
diversidade. “Eu quis fazer o documentário porque outra pessoa não iria
demonstrar todas essas atividades que a gente promovia lá. Eu queria
mostrar que o Lira Paulistana foi além da música”, defende o diretor.
Durante os 97 minutos de exibição, os entrevistados traçam o panorama de
atuação do Lira Paulistana e falam um pouco da relação estabelecida com
o local. Clemente, vocalista da banda Inocentes, conta que muitas vezes
colava cartazes do Lira Paulistana pela cidade em troca de uma
graninha. “Eu perguntava: quanto ganha o cara dos cartazes? 50? Me dá os
cartazes aqui que eu colo.”
Texto Itamar Dantas
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