Entre a ressaca nacional do Plano Collor e a ressaca pessoal cantada
na faixa de abertura de “Os grãos” (Tribunal de Bar), as cores de “Bora
Bora” tinham se perdido de vez. Tudo andava mais cinza e sem cor. O país
duvidava de si e a empolgação dos primeiros anos democráticos se perdia
após uma eleição presidencial controversa. Com as poupanças confiscadas
e pouco dinheiro circulando, todas as vendagens de discos caíram no
Brasil. Nesse embalo, o rock nacional – grande responsável pelas
vendagens da década de 80 – entrava em xeque.
Neste disco, até certo ponto catártico, os Paralamas expurgaram
alguns de seus fantasmas, jogaram muita coisa fora para tentar deixar a
casa melhor assim. “Os grãos” também ficou marcado por apostar numa
maior qualidade sonora, no estabelecimento de uma nova fronteira de
áudio para discos brasileiros, além de abrir mais portas para a entrada
de samplers e programações eletrônicas. Definitivamente, apostar em uma
mudança daquelas não era a atitude mais prudente em tempos de crise, mas
manter a prudência também não era exatamente uma prioridade dOs
Paralamas.
A baixa vendagem e as críticas pesadas de parte da imprensa deixaram
sequelas. As portas fechadas no Brasil e o sucesso da versão de Trac
trac, de Fito Paez, levaram o grupo a se aproximar ainda mais da
Argentina. “Os grãos” se tornou um dos discos menos ouvidos da banda e
deixou faixas como relíquias, lembradas pelos fãs mais ávidos como
algumas das melhores canções da banda, entre elas Vai valer, Não
adianta, Ah Maria e Tendo a Lua.
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