terça-feira, 24 de novembro de 2015

Entrevista Dinho Ouro Preto: 'Há muito talento no rock nacional, mas bandas não atingem o público'


Com o novo trabalho do Capital Inicial, o DVD 'Acústico em NY', nas lojas, cantor Dinho Ouro Preto reflete sobre a situação política, brinca sobre o meme do 'Norvana' e fala sobre o atual mercado da música, dominado pelo sertanejo:











Um registro acústico não é novidade para o Capital Inicial. Em 2000, a banda lançou o "Acústico MTV", que marcou nova fase da carreira do grupo. Agora, volta ao formato desplugado com um DVD gravado em Nova York, no Terminal 5. Mas em vez de preparar um repertório apenas com clássicos, Dinho Ouro Preto e seus companheiros decidiram pôr foco nos últimos trabalhos e mostrar material inédito. O vocalista fala mais sobre a decisão de viajar aos EUA para lançar este novo material.


Como vocês decidiram gravar um DVD em Nova York?
No início, tínhamos duas ideias: gravar em um ambiente claro, ao ar livre, ou em um lugar escuro, mais urbano. Nossa primeira opção era Fernando de Noronha, mas esbarramos em um monte de obstáculos ambientais. Eram regras bem rígidas, que encareciam o projeto. Fomos para o plano B e começamos a pensar em um ambiente urbano. Porra, cara, qual o centro mais urbanoide da Terra, com as maiores multidões e os maiores arranha-céus? Nova York. Começamos a cotar e vimos que o valor não era absurdo. E a maior ironia é que, quando pagamos tudo, o dólar estava barato. Quando finalmente abrimos as bilheterias do show, o dólar estava trabalhando a nosso favor. No fim, custou menos do que se tivéssemos feito algo parecido no Brasil. Sobrou até uma grana para a pós-produção.
O público era formado só por brasileiros ou você viu alguns americanos também?
O grosso era de brasileiros mesmo. Uns 10% saíram do Brasil para ver o show lá. Os outros 90% fazem parte dessa diáspora brasileira, gente que vive em um exílio econômico nos Estados Unidos. Veio gente de todos os Estados. Pessoas da Califórnia, Texas, Flórida estavam lá... E tinha alguns americanos também. Muitos casais. Conheci uma mulher brasileira que casou com um americano e levou o marido para ver o show, por exemplo.
Vocês estão na estrada há bastante tempo. Olhando para o rock brasileiro agora e na época em que vocês começaram, o que mudou para pior? E para melhor?
Sou um militante do rock brasileiro. Vejo qualidade, vejo um monte de bandas que gosto. Vejo o mesmo talento desde quando começamos. Só não vi um novo Renato Russo. Acho que essas bandas têm mais dificuldade em chegar ao grande público. Existe uma barreira, que é essa avalanche monocromática da música sertaneja. Somos um país plural. Aqui se faz de tudo. O pessoal precisa se dar conta da qualidade do nosso rock. Meu conselho a essas bandas é o seguinte: não desistam. Nós passamos por imensas dificuldades. Quando era garoto, pensei em desistir várias vezes. Mas resisti. Então vale a pena resistir, porque vejo muito talento por aí.
Você sempre teve uma postura crítica sobre política. Como você vê a situação atual do país?
Outro dia vi um vídeo em que o ex-senador Eduardo Suplicy foi quase agredido. Achei aquilo um ultraje. Fiquei envergonhado. Não sou petista. Não voto mais no PT. Votei na Marina na última eleição. Mas sou contra essa atitude bipolar. Vejo qualidades e defeitos tanto no PT quanto no PSDB. Sou contra a demonização e a santificação tanto de um quanto de outro. Penso que o PSDB poderia trazer mais estabilidade para a moeda, e o PT tem uma consciência social maior. Mesmo sendo contra essa fome de poder do PT, contra essa ganância, acho injusto a criminalização do partido. Gostaria também de ver políticos que pensem mais na sustentabilidade, que tenham uma consciência ecológica maior. Por isso sou a favor da alternância do poder.
Em 2013, você publicou um tuíte sobre o Nirvana, mas escreveu 'Norvana', e ele acabou viralizando. Você leva o episódio na brincadeira ou fica chateado com a reação?
Aquilo foi um erro de digitação. Volta e meia eu erro. Eu levo na esportiva. Na verdade, não estou nem aí. Podem zoar.

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