Nova foto-biografia do grupo de Santos apresenta retratos íntimas, mas também traz à tona as tretas nos bastidores que pairam até hoje sobre a banda
por Marcos Candido
Um dos
últimos projetos de Alexandre Magno "Chorão", líder do Charlie
Brown Jr., foi um livro de fotografia com imagens de dentro do
estúdio, alguns momentos introspectivos à beira-mar e turnês realizadas entre
2005 e 2012. Pensado em 2011, o livro Eu Estava Lá Também (Editora Realejo) foi lançado só agora, no dia 9 de abril,
quatro anos após a morte do vocalista. As 350 fotos publicadas são como uma
homenagem dos fãs à banda, embora escondam os conflitos trágicos e troca de
acusações nos bastidores que até hoje pairam sobre o legado do grupo.
Ao abrir o gigante volume (30x30
centímetros), é possível notar algumas dessas desavenças com a ausência de
figuras importantes, como da esposa de Graziela Gonçalves, esposa de Chorão por
cerca de duas décadas (eles estavam separados há três meses antes da morte do
músico).
Outra lacuna é a do nome do fotógrafo Jerri Rossato Lima, que divide a
autoria das imagens com Alexandre Abrão, filho de Chorão. Segundo Jerri, o
livro impresso "não é o mesmo criado" pelo músico de Santos. O
fotógrafo acusa os editores e os herdeiros de excluí-lo da seleção final,
alterar o projeto gráfico e retirar Graziela. "As fotos da
companheira de Chorão por cerca de 20 anos, Graziela Gonçalves, que faziam
parte do projeto original, foram excluídas do livro. A pessoa que inspirou
diversas músicas escritas por Chorão [como o hit Proibida Pra Mim] foi
excluída da sua própria história", diz Jerri. No projeto apresentado
por Jerri à reportagem, a ex-esposa aparece ao lado do músico e há
grafismos diferentes dos que foram lançados agora.
O editor
José Luiz Tahan defende que as imagens escolhidas estavam sobre a mesa
da casa onde Chorão foi encontrado morto."Acredito que naquele
momento ele desejou excluí-la [Graziela Gonçalves] do projeto", diz o
editor. "Nós respeitamos essa decisão, até porque as esposas dos outros
músicos também não foram incluídas no livro". Já para Alexandre, o formato
de Jerri precisava de alterações que atendessem o "grau de
exigência" esperado pelo pai. Ao não conter imagens na companhia da
ex-esposa no último rascunho do livro deixado por Chorão, o filho
argumenta que o pai é quem tomou a decisão de não incluí-la.
Segundo o
editor Tahan, desde 2012 a produção do livro havia sido interrompida
"quase semanalmente" pelo próprio Chorão. "A cada ano o Chorão
falava em finalizar o livro, que sofria diversas alterações", argumenta.
Um dos motivos, ele explica, foi a volta de antigos membros à banda, como o
guitarrista Marcão e o baixista Champignon.
Como se sabe hoje, o retorno dos
originais foi turbulento. Em 2012, durante um show no Paraná, Chorão acusou o
colega de retornar à banda por motivos financeiros e o
baixista abandonou o palco. Meses depois, ambos apareceram em um vídeo
constrangido de desculpas, publicado via YouTube. Meses de estrada se passaram
quando, no dia 6 de março de 2013, Chorão foi encontrado morto no apartamento
onde morava em São Paulo. Tentando dar continuidade aos projetos musicais enquanto
enfrentava um divórcio e o luto, Champignon se matou em setembro do mesmo ano.
A responsabilidade pelo livro coube, então, aos herdeiros e aos
profissionais escalados no início da produção, que decidiram continuar com a
produção. Depois das disputas para decidir o rumo da obra, Jerri Rossato
decidiu por retirar seu nome do livro - Eu Estava Lá Também é assinada apenas com "uma
obra de Chorão" na capa.
Mesmo com o fim ruidoso da banda acostumada
a mensagens positivas, vida e obra do Charlie Brown Jr. seguem como referência
para uma comunidade de seguidores por todo o país: Eu Estava Lá Também contou com o apoio dos fãs, que por meio de um
crowdfunding ajudaram a financiar o livro com fotos que miram as lentes para o
bom astral habitual do palco. Há imagens de Chorão abraçado com Pelé,
viajando alegre ao lado dos colegas e do skate, esporte que foi uma
de suas várias marcas.
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