As Mercenárias, lideradas por Sandra Coutinho, recebem a Rakta no palco para um encontro inédito que reúne duas gerações do punk feminino.
por Bruna Bittencourt
Separadas
por um intervalo de 30 anos, duas gerações do punk feminino se encontram no
palco do Centro Cultural São Paulo. De um lado, estão As Mercenárias, velhas
conhecidas do público paulistano. Liderada por Sandra Coutinho, a banda
surgiu nos anos 80 e foi um dos primeiros grupos punk formados por mulheres
(ainda que Edgard Scandurra tenha sido o baterista na primeira formação). Do
outro, o trio Rakta, uma das
melhores novidades da cena roqueira independente nacional. "Cada
integrante da banda conheceu As Mercenárias em épocas diferentes", conta Paula Rebellato, voz e
teclados do grupo fundado em 2011.
Sandra é hoje a única remanescente da formação original das
Mercenárias. Em 1990, depois de dois discos lançados (Cadê as Armas?, 1986, e Trashland, 1988), a banda
foi dispensada pela gravadora via telegrama. Com o fim do grupo, a baixista
trocou o Brasil pela Alemanha, decisão motivada também por um
relacionamento e uma inclinação à música experimental e de improvisação.
"Não tinha perspectiva para esse tipo de som aqui. Com as Mercenárias, já
era difícil".
Foram 14 anos fora do país e quando voltou, em
2004, Sandra ficou surpresa ao tomar conhecimento do público que sua banda
ainda tinha, descoberta feita em uma apresentação d'As Mercenárias no Sesc
Pompeia, em São Paulo. "Sabe um dragão adormecido? Fiquei espantada:
estava muito cheio e havia muita gente cantando." Em 2005, o lançamento da
coletânea da banda (Brazilian post-punk 1982-1988
- O começo do fim do mundo) deu
mais um impulso ao grupo e, desde então, As Mercenárias têm tocado com
frequência, ainda que em diferentes formações.
Já a Rakta lançou, pelo selo americano Iron Lung, seu segundo álbum, III
- o nome é uma referência à estreia da banda como trio. A saída da
guitarrista Laura Del Vecchio, após o primeiro disco da banda, levou Paula, a
baixista Carla Boregas e a baterista Nathalia Viccari a reformularem o som da
Rakta. "A gente passou a explorar ainda mais camadas de atmosfera para
preencher o som. É legal você estar em um festival de rock e falar:
'Nosso grupo não tem guitarra'. É uma formação interessante. A gente não sente
falta hoje em dia", conta Paula. "Atmosférico",
"ritualístico" e "bruxesco" são adjetivos usados para
descrever o som do trio, que tem um trânsito crescente fora do Brasil.
Em 2014, fizeram uma
turnê de três meses pela Europa. No ano passado, excursionaram por Japão,
Canadá e Estados Unidos. Neste ano, já passaram por México, Colômbia, novamente
Estados Unidos (Texas) e vão ao Peru. Por aqui, ingressaram no circuito de
festivais e desde o início do ano tocaram no Bananada (Goiânia) e no Coquetel
Molotov (Recife).
Matriarcado
O feminismo é
inerente ao Rakta, por ser um grupo punk formado apenas por mulheres.
"Estarmos em festivais, lançando discos, viajando, ocupando esses lugares,
dispensam uma manifestação verbal [sobre feminismo]. A ação é um
ato político por si só", afirma Paula. "Todas nós vivenciamos ele à
nossa maneira e conseguimos transcrever isso com a banda, com as músicas. Nunca
ficamos falando que somos feministas em show. É muito o que a gente é e
faz", explica a tecladista.
A percepção sobre o assunto é similar ao que pensa Sandra.
"Não sou militante. Sou fruto do matriarcado. Minha avó ficou viúva e se
virou para criar os filhos. Minha mãe sempre foi muito independente, comprou um
carro com 18 anos, era professora primária e queria usar calça porque achava
mais prático. Ela simplesmente fez, realizou", conta. "Ana e Rosália [integrantes da banda nos anos 80] tinham filhos sem maridos, se viravam,
mas isso nunca foi o tema de uma letra. Na época, havia outras questões acima,
como direitos humanos e democracia, estávamos saindo de uma ditadura",
lembra a baixista d'As Mercenárias.
No show, Rakta e Mercenárias tocam
músicas de cada banda e mostram duas novas, criadas a várias mãos. "O
resto são transições das nossas faixas para as delas, algumas interações entre
elas", conta Paula. "Elas contribuem em nossas músicas e
vice-versa", diz Sandra. Literalmente, um encontro de gerações.
Foram 14 anos fora do país e quando voltou, em 2004, Sandra ficou surpresa ao tomar conhecimento do público que sua banda ainda tinha, descoberta feita em uma apresentação d'As Mercenárias no Sesc Pompeia, em São Paulo. "Sabe um dragão adormecido? Fiquei espantada: estava muito cheio e havia muita gente cantando." Em 2005, o lançamento da coletânea da banda (Brazilian post-punk 1982-1988 - O começo do fim do mundo) deu mais um impulso ao grupo e, desde então, As Mercenárias têm tocado com frequência, ainda que em diferentes formações.
Já a Rakta lançou, pelo selo americano Iron Lung, seu segundo álbum, III - o nome é uma referência à estreia da banda como trio. A saída da guitarrista Laura Del Vecchio, após o primeiro disco da banda, levou Paula, a baixista Carla Boregas e a baterista Nathalia Viccari a reformularem o som da Rakta. "A gente passou a explorar ainda mais camadas de atmosfera para preencher o som. É legal você estar em um festival de rock e falar: 'Nosso grupo não tem guitarra'. É uma formação interessante. A gente não sente falta hoje em dia", conta Paula. "Atmosférico", "ritualístico" e "bruxesco" são adjetivos usados para descrever o som do trio, que tem um trânsito crescente fora do Brasil.
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